Artigo: Sim, Jogos Vorazes

Compartilhe esta notícia:

(E todos acreditando ser 1984, de George Orwell).

Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

Enquanto acontecia a Eleição para os cargos de presidente do Senado e presidente da Câmara, milhares de lares, espalhados por este País, encontravam-se ligados na Rede Globo de Televisão para o início de mais um Big Brother Brasil. Preparados para mais um “Paredão”. Este que carrega em sua semântica: aquele em que o fuzilamento acontece enquanto os demais assistem e vibram com a exclusão de mais um nome. De fato, a política nacional passa por maus momentos, alavancados pela ausência de planejamento por parte do Executivo e seu Ministério, despertando a insatisfação e ira de muitos. Ausentar-se da participação política e embriagar-se pelo entretenimento é o subterfúgio de alguns membros da Nação há décadas. A Escola de Frankfurt, através de Walter Benjamin, orientara-nos sobre esse ludibriar e a intenção dos meios de comunicação de massa. A lavagem cerebral fora realizada. E você nem notou.

Apesar de ser um famoso reality show no Brasil e no mundo, o verdadeiro Big Brother tem sua origem na Literatura. Ele é uma das premissas do livro “1984”, do escritor britânico George Orwell. No romance, o personagem do Grande Irmão é o líder supremo do cenário (a fictícia Oceânia) que controla toda a população. Na história, todos os cantos públicos e privados estão ligados às “teletelas”, uma espécie de câmera capaz de monitorar, gravar e espionar a intimidade da sociedade — assim como acontece na casa do Projac, que abriga todo ano os participantes do reality. Escrita no século XX, a obra reflete uma crítica ao totalitarismo, já que os moradores não poderiam, de forma alguma, contestar o sistema criado pelo regime. Assim também acontece diante das decisões do Diretor do Programa Global no Brasil. Com o slogan “O Grande Irmão está de olho em você”, “1984” tem como protagonista Winston Smith, um funcionário do governo que tem como função falsificar registros históricos, a fim de moldar o passado de acordo com os interesses tirânicos. Ao longo da ficção, o leitor se depara com o desafio do herói na luta contra a opressão. Todavia, o atual entretenimento global, de audiência estratosférica, está mais para “Jogos Vorazes” – uma distopia inspirada na máxima de Orwell – cuja população assiste aos jogos, nos quais os jovens lutam até a morte, de modo que apenas um sai vitorioso. O evento, completamente monitorado, visa manter o poder do governo. Esse governo é a Rede Globo que a cada ano lucra milhões de dólares com as dores de inúmeras famílias e o embriagar de telespectadores vorazes pela desgraça de seu semelhante. O jovem ator Lucas Penteado é um dos dois jovens do romance distópico que sai deste sistema e luta contra ele.

A Rede Globo de Televisão conta com o maior grupo de patrocinadores em um só programa, são oito. Um desses patrocinadores é uma marca de cerveja, portanto, ao longo de 100 dias, desde o seu início em 25 de janeiro esta rede de tevê, organizadora deste programa, se alimentará deste filé. Tornando-o cada vez mais competitivo. Quando em discurso vazado, em que o diretor Boninho tenta convencer o rapper Projota a não sair da casa, a bebida é colocada como a causadora da discórdia, todavia, nesta ou em qualquer outra edição, o álcool foi sempre elemento para a construção do enredo. São tonéis distribuídos à noite e durante às festas. Além disso, um dos patrocinadores é uma marca de cerveja. Marcar este ou aquele como os causadores desta confusão é insano, pois o reality é realizado baseando-se em perfis discordantes e polêmicos. O que se vê pelas telas são os personagens, que a realidade não pode mostrar. As máscaras caem. E não me venham com a balela de falta de comida, confinamento, ausência de açúcar, hormônios à flor da pele etc. O gosto amargo que telespectadores estão sentindo ao se depararem com cenas racistas e preconceituosas fazem parte desta indústria do entretenimento. A intenção sempre foi esta, envolver-nos, ludibriar-nos, atingir média de 27 pontos na cidade de São Paulo como aconteceu na semana passada, ou seja, cada ponto equivale a 205 mil indivíduos assistindo ao Grande Irmão.

A Rede Globo de Televisão, através da direção do reality pelo Boninho, não encerrará o seu “Jogos Vorazes” pela desistência deste ou daquele participante, nem pelas agressões verbais vociferadas a todo instante na casa – denotando racismo há inúmeros discursos. A intenção do BBB é faturar, lucrar até o dia 04 de maio e depois mais um pouquinho com os participantes. Aqueles que ainda ousam em discutir, difundir o que acontece no reality através de suas redes sociais contribuem para o lucrar e perpetuar de mais uma edição. A intenção sempre foi esta: ver-nos acompanhar e difundir o seu show de horrores como a distopia nos avisara. Só aqueles que não leram acreditam nessa manipulação global.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!

Compartilhe esta notícia: